A Representação do Real pela Fotografia no Imaginário Popular

André Luiz Reis Mattos

Mestrando em História Cultural pela Universidade Severino Sombra – Vassouras/RJ

O campo é relativamente novo, mas não inexplorado; ainda apresentam-se em construção caminhos (distintas linhas de investigação) que pretendem configurar a real dimensão teórica para aplicação da fotografia como fonte nos estudos e pesquisas historiográficas. Assim desenham-se as impressões iniciais dos estudos desenvolvidos até o presente momento no meu projeto de mestrado sobre Fotografia e História: Análise de memórias da Vila de Entre-Rios pela perspectiva de fontes fotográficas, pela Universidade Severino Sombra, em Vassouras/RJ, com orientação da Profª Drª Ana Maria Dietrich.

“Desde seu surgimento e ao longo de sua trajetória, até os nossos dias, a fotografia tem sido aceita e utilizada como prova definitiva, “testemunho da verdade” do fato ou dos fatos. Graças a sua natureza fisicoquímica – e hoje também eletrônica – de registrar aspectos (selecionados) do real, tal como estes de fato se parecem, a fotografia ganhou elevado status de credibilidade.” (Kossoy, Boris. 2009:19)¹

Quando enquadra com a câmara/maquina fotográfica determinada porção da paisagem ou pessoa ou grupo de pessoas, a imagem selecionada representa naquele rápido instante, para o agente fotográfico, parcela de uma realidade que se pretende não desapareça, seja preservada, memória que se pensa ser jamais esquecida com o passar do tempo.

Essa compreensão e aceitação da possibilidade/potencial da fotografia (não importando os discursos teóricos das diversas ciências que analisam seus mistérios; discursos estes que pouco chegam a interferir no pensamento das massas) de reproduzir imageticamente o que foi visualmente e sensivelmente vivido e experimentado em determinado tempo e espaço, congelando e preservando o objeto figurado, construiu no imaginário popular, sedimentado fortemente, a idéia de que o registro fotográfico, fragmento material, é expressão da realidade.

Dos elementos constitutivos de uma fotografia² é o fotografo que se impregna da sensação do real, pois é este que vive, constrói, seleciona o elemento que se “transformará” na memória representada pela imagem captada.

Intensamente motivada pela impressão provocada pela beleza da paisagem e do momento pessoal de sua vida social e emocional, a fotografa amadora³ selecionou ângulos que pudessem melhor representar o conjunto observado. Em apenas 3 minutos uma seqüência de 9 fotos (destas escolhemos 3 atendendo as normas de publicação) registraram o por do Sol em uma lagoa na cidade de Cabo Frio/RJ. Seu olhar foi único naquele momento e sob aquele ângulo seleciona os objetos, procura o melhor enquadramento, construindo uma realidade que em sua mente é a expressão verdadeira da sua experiência sensorial.

Se a imagem fotográfica de sua lavra imputa na fotógrafa esta representação, porque outras, (registros de fotógrafos conhecidos ou não, do tempo atual e do passado, de espaços sociais, de povos e culturas conhecidos ou não) deixariam de provocar esta mesma sensação, confirmando a sua condição de “espelhos fieis dos fatos”? 4 Assim ocorre com todos (e com certeza são milhões) os que vivenciam, com uma máquina fotográfica na mão, a experiência de perpetuar (impresso materialmente ou virtualmente salvo) como memória objetos, pessoas, paisagens para estes especiais.

Para o “imaginário popular” a fotografia é expressão da verdade, mas os historiadores devem “decifrar a realidade interior das representações fotográficas, seus significados ocultos, suas tramas, realidades e ficções, as finalidades para as quais foram produzidas...” (Kossoy, Boris. 2009:23) 5 , buscando o melhor caminho teórico e metodológico para a utilização da fotografia como fonte histórica.

À esquerda, temos a seguinte ordem das fotografias:

A 1ª fotografia da seqüência; da estrada a imagem do por do sol chama a atenção e o desejo inicial é o de começar a registrar o momento.

Na 3ª fotografia, conforme depoimento da fotógrafa, procurou enquadrar o barco e o reflexo do Sol na lagoa, além de posicionar este no centro da imagem. É a criação de uma realidade pela técnica e vontade do autor, ou é a própria natureza que lhe concedeu esta possibilidade?

Aproximando com o zoon nesta 5ª foto a fotografa demonstra que o objeto de sua atenção é o Sol em sua última “apresentação” do dia.

Referências:

1 KOSSOY, Borrys. “Realidades e Ficções na Trama Fotográfica”. São Paulo. Ateliê Editorial. 4ª Edição. 2009.

2 “Tratam-se dos componentes que a tornam possível, isto é, materialmente existente no mundo: o assunto que é objeto de registro, a tecnologia que viabiliza tecnicamente o registro e o fotógrafo, o autor que, motivado por razões de ordem pessoal e/ou profissional, a idealiza e elabora através de um complexo processo cultural/estético/técnico, processo este que configura a expressão fotográfica.” KOSSOY, Borrys. “Realidades e Ficções na Trama Fotográfica”. São Paulo. Ateliê Editorial. 4ª Edição. pp 25/26, 2009.

3 Drª Jussara de Toledo Ribas, escrivã da 2ª Vara da Comarca de Três Rios/RJ, minha chefe, que registrou as fotos reproduzidas neste artigo com sua autorização, no dia 20 de setembro de 2010, iniciando as 17:31, através de uma câmara Sony DSCH-X1.

4 Idem 1 pp 22.

5 Idem 1...