Editorial – Edição 20

Editorial Nº 20  – Formação Docente
Vanisse Simone Alves Corrêa (UNESPAR),
Ana Maria Dietrich (UFABC),
Emily Pestana (Fundação Santo André),
Gabriela Nascimento (UFABC) e
Nathália Vaccani (UFABC)

 

Mesmo com inúmeras pesquisas, a formação de professores no Brasil ainda é um campo de estudo que necessita de uma atenção redobrada por parte dos pesquisadores. É um processo que impacta diretamente na qualidade da educação básica e os estudos nessa área contribuem com a melhoria da educação como um todo.

Tanto a aprendizagem dos alunos, como a qualidade da educação, demonstrada pelos inúmeros índices disponíveis está ligada à formação dos professores. Repensar a formação docente, suas políticas, metodologias e questões curriculares pode ajudar a fomentar uma  formação mais adequada às necessidades que se apresentam. É preciso ter clareza que a formação docente não é somente uma atividade acadêmica e um processo político.

Esse processo político é evidenciado pela realidade complexa e contraditória em que vivemos, onde se evidencia o valor e a expertise dos professores. De fato, a função docente, não é qualquer coisa nem pode ser realizada por qualquer pessoa. Formar professores, trata-se, em última análise, de formar pessoas que também formarão pessoas futuramente e isso pressupõe processos refinados e altamente especializados.

Atreladas a essas indagações, estão questões prementes, que merecem ser respondidas, tais como: que habilidades/potencialidades o professor precisa desenvolver para realizar sua função de maneira competente? Qual é o perfil do profissional que se deseja e se necessita? Como os cursos de formação docente estão estruturados para formar esse profissional? Em que medida a identidade profissional dos professores se constitui?

O dossiê “Formação Docente” procura apresentar diversas temáticas, estruturadas a partir da formação de professores, com o intuito de realizar uma reflexão imprescindível e aprofundada sobre o assunto. A fim de contribuir com o campo, sempre em pesquisa, permanente e necessária, a Contemporâneos apresenta vários trabalhos de lugares diferentes do Brasil. Em “A circulação da psicologia anglo-americana na formação  de professores para a educação profissional brasileira (1946-1963)”, o Prof. Dr. José Geraldo Pedrosa e a Prof. Ma. Fernanda Leite Bião (CEFET-MG), fazem uma análise da influência da psicologia anglo-americana presentes na formação dos professores, demonstrando que os temas de formação valorizavam processos seletivos e avaliações de desempenho, fundamentados principalmente no taylorismo e fordismo.

No artigo “A expressão dramática com crianças pequenas na formação de professores de teatro”, da Profa. Dra. Guaraci da Silva Lopes Martins e do Prof. Dr. Robson Rosseto (PPGARTES/UNESPAR-PR), é feita uma análise reflexiva dos processos dramáticos desenvolvidos com crianças sob orientação dos acadêmicos Curso de Licenciatura em Teatro da Unespar realizado no estado do Paraná, na cidade de Curitiba, e demonstra o quanto o trabalho teatral é necessário e importante na formação do alunado.

 

O trabalho com teatro deve ser valorizado e incentivado a fim de desenvolver os valores estéticos e artísticos das crianças. O texto do Prof. Dr. Emérico Arnaldo de Quadros (UNESPAR-PR), “Atuações do professor do ensino superior em sala de aula” apresenta aspectos importantes na atuação do professor do ensino superior em sala de aula e demonstra que variadas abordagens pedagógicas como  a dramatização, grupo operativo, dinâmica de grupos, desempenho de papéis, jogos dramáticos, estudo de casos, seminários e debates entre outros enriquecem o trabalho docente no ensino superior.

No artigo “Formação de professores(as): Rememoriar para resistir”, a Profa. Dra. Adriana Pereira da Silva (PUC-SP), apresenta um processo de formação de professores (as) e orientadores (as) pedagógicos (as), ocorrido em São Bernardo do Campo (SP), no período de 2013 a 2016, embasado em uma perspectiva freireana. A autora  traz uma reflexão sobre a importância de uma formação crítica e reflexiva sobre a própria práxis pedagógica e a realidade em que a mesma se insere.

Já Irene Franciscato (Curso Educação em Direitos Humanos/ UFABC-SP), no artigo “Formação docente: Para quem, para o quê?” busca refletir sobre a temática da educação em direitos humanos na formação para professores que atuam com crianças pequenas, especialmente no que se refere às questões de racismo, ainda muito presentes nas escolas. A autora demonstra que por meio de práticas pedagógicas, lúdicas e literárias é possível trabalhar com o respeito às diferenças. .

Em “Língua de sinais: autonomia para surdos na educação infantil”, escrito por Dinair Iolanda da Silva Natal e Ednilson Assenção Luiz (UNESPAR-PR), são analisados, através de meios bibliográficos,  os principais desafios para a criança surda no seu primeiro contato com língua de sinais brasileiras e seus desdobramentos nas relações familiares, escolares e sociais.

Viviane Mauricio e Cristienne do Rocio de Mello Maron (UNESPAR-PR) em “Modelagem matemática: uma experiência na educação de jovens e adultos” analisam uma atividade realizada com um grupo de alunos da EJA, na disciplina de Matemática no Ensino Fundamental II, utilizando-se da modelagem matemática. Segundo as autoras, essa metodologia utiliza-se de problemas encontrados na realidade do aluno e com temas do seu interesse, podendo aliar-se a outras áreas do conhecimento e a variados conteúdos no processo da busca da resolução, o que possibilita ao aluno  a construção do conhecimento matemático a partir das suas experiências reais.

O texto do Prof. Dr. Jorge Uilson Clark (UNESPAR-PR), “Pedagogia. Uma ciência educativa e da práxis do professor?”,  analisa a questão da formação do pedagogo e da identidade do professor, a partir de um viés histórico e pela reflexão sobre o papel que a Pedagogia ocupa. O autor discute se a Pedagogia é  ciência (embasada na Filosofia, Sociologia e Psicologia) ou práxis (já que se materializa na prática pedagógica). São feitas indagações acerca da Pedagogia, se ela já se tornou uma Ciência Educativa, se instrumentalizou outras áreas do conhecimento, a crise de identidade do curso de Pedagogia.

Na Seção de Artigos independentes, Camila Binhardi Natal e Marcia Helena Alvim (UFABC-SP) analisam  teoricamente as relações relações entre a História Cultural das Ciências e a Divulgação Científica no artigo “A História Cultural das Ciências e a Divulgação Científica: reflexões teóricas”. Consideram a premissa de que podem contribuir para a circulação social da cultura científica de modo mais democrático e significativo.

O artigo “O som e o silêncio: música, cultura revolucionária e repressão artística em Cuba”, produzido por Fernando Lucas Garcia de Souza (UFGD-MS), é realizada uma análise da Revolução Cubana e seus impactos na cena cultural cubana.

No artigo “O trabalho com a questão étnico-racial na educação infantil – da formação de professores e seus impasses à sala de aula”, a autora Eliana Scaravelli Arnoldi (Curso Educação em Direitos Humanos/ UFABC-SP) expõe as dificuldades enfrentadas como coordenadora pedagógica em uma escola pública de educação infantil na cidade de São Paulo tratando da temática educação para as relações étnico-raciais.

O artigo “Uso da internet na escola e responsabilidade docente”, da Profa. Dra. Chavelli Dominique Luiz Machado (UNESPAR-PR) e da pedagoga Vanisse Simone Alves Corrêa (Rede Municipal de Ensino de Curitiba),  discute qual deve ser o papel do professor em relação ao uso da internet na escola. O artigo apresenta quais são as responsabilidades, atitudes e orientações que o docente deve adotar para conscientizar os alunos sobre o uso da internet.

Finaliza a edição a entrevista realizada por Dione Marta de Mesquita Costa e Ana Maria Dietrich (UFABC-SP), “Mãos que ouvem, falam e educam na invisibilidade da horticultura urbana”, realizada com a horticultora Silvana Padilha que discute o alinhamento das práticas dos horticultores urbanos, da cidade de São Bernardo do Campo,  com a Educação Ambiental e a Educação em Direitos Humanos.

A resenha “Análise Fílmica: Hotel Rwanda – A true story” escrita por Gustavo Rios da Silva, Rômulo Siqueira da Silva, Tatiane Gonçalves Bezerra e pela Dra. Ana Maria Dietrich, da UFABC-SP. Faz uma análise crítica, com base nos conceitos desenvolvidos por Hannah Arendt,  e detalhada, com análise sonora e visual, do filme produzido a fim de retratar os horrores do genocídio em Rwanda, em 1994., provocado por diferenças étnicas introduzidas por estrangeiros.

Esperamos que todos apreciem a leitura dessa edição que discute a educação e a formação de professores, temática pungente na contemporaneidade.